Registro Místico 2: Descolando do corpo

Fonte: Recessos da memória. Data: Janeiro de 1993. Local: Aracati, Ceará. Experiência: Projeção psíquica. Tipo: Proximidade. Relevância: 8.

Uma assombrosa sensação

Alguns se passaram depois de minha primeira projeção psíquica. Tive alguns sonhos e experiências incomuns durante a infância, mas como me faltava um direcionamento espiritual, deixei-me levar pelo turbilhão furioso da adolescência…

Fomos passar alguns dias na praia...

O apartamento era pequeno, como todos os outros naquele condomínio de veraneio. Perto da praia, longe do supermercado e da farmácia. Mas isso para mim não fazia muita diferença.

No alto dos meus 15 anos, nem mesmo a morte do meu avô ou o nascimento da minha primeira filha me causavam inquietação. Para mim o que realmente importava era desenho, heavy metal e, é claro, mulheres.

Depois de um ano em Dourados, no Mato Grosso do Sul, estávamos voltando para morar em Fortaleza. E o Chiquinho vinha morar com a gente.

O Chiquinho era um dos filhos do primeiro casamento do Paulo, antes da minha mãe. Era só um ano mais velho do que eu e sempre nos demos bem.

Ele estava diferente de quando o vira em São Paulo há alguns anos. Seu cabelo encaracolado estava imenso e embaraçado em bolotas de diferentes tamanhos. Não usava pente ou xampu, pois não gostava de coisas químicas ou de plástico. Ainda assim, a sua cabeleira tinha um aspecto limpo e lustroso.

Na maior parte do tempo era introspectivo, misterioso, e quando finalmente resolvia interagir tinha uma conversa muito básica e sorria como uma criança.

Havia muitas histórias sobre o porquê ele precisou sair de São Paulo para o Ceará, incluindo drogas, perseguição policial e gangues de rua. Eu mesmo bebia, fumava cigarro e maconha.

Havia uma boa piscina e uma quadra de futebol dentro do condomínio. Eu e o Chiquinho arriscamos alguns mergulhos e chutes a gol, e logo estávamos superamigos de novo. Passamos para conversas mais densas e profundas.

O Chiquinho falava sobre a decadência da civilização moderna, sobre o afastamento da natureza e seus malefícios, e fazia elogios ao estilo de vida simples e puro das comunidades indígenas.

Certa noite, ele me falou sobre um mestre índio chamado Don Juan e sobre as ervas sagradas como o peiote. Falou do escritor Carlos Castaneda como um homem branco ignorante que não soube aproveitar a oportunidade de aprender tudo o que pudesse com o grande mestre índio.

Narrou alguns trechos do livro, inclusive um onde o autor alega ter tomado a erva sagrada, entrado em êxtase e sonhado. Neste sonho transformou-se em um pássaro e voou para longe. Ao acordar estava nu, em uma floresta longínqua.

Fiquei intrigado e é claro meio desconfiado com essas histórias. Na época eu tinha uma filosofia pessoal muito desapegada e materialista, típica da pequeno-burguesia socialista/comunista. Mesmo assim, essas conversas sobre o índio Don Juan e suas ervas mágicas despertaram o tênue fio de minha espiritualidade.

Os dias se passaram mais calmos desde então, e estávamos prestes a voltar para a nossa nova casa em Fortaleza. Nessa noite o Chiquinho teve uma dor de cabeça. Minha mãe lhe ofereceu um comprimido e ele, é claro, recusou.

Deitou-se no sofá de concreto e almofadas, fechou os olhos e começou a fazer gestos, abrindo e fechando as mãos, como se estivesse aspergindo, expelindo, expulsando algo de dentro de si mesmo.
Este gesto xamânico, por mais absurdo que fosse a meu pretenso racionalismo, parecia ter a sua lógica própria e ser uma solução efetiva para a doença. E ele realmente melhorou.

Pouco depois, fui dormir.

Sonhei com uma grande escuridão.

Então surgiu, vindo detrás, imenso, um fuzil AK-47. Ele voava para frente em curvas rápidas e sinuosas, e logo chocou-se contra um muro de tijolos vermelhos, quebrando-o em vários pedaços.

Acordei em um sobressalto. O sonho foi muito detalhado e intenso. Era como se algo dentro de mim houvesse se partido. Um lacre, um selo, um cadeado que segurava uma porta que agora estava aberta.

Deitei-me novamente. Sentia uma estranha inquietação, uma antecipação, um certo magnetismo na atmosfera. Adormeci.

Acordei dentro de meu corpo. Sentia-me solto, mas ainda meio preso. Aos poucos fui subindo, desprendendo-me, descolando… Eu estava saindo de dentro de mim mesmo.

Era como se houvesse uma cola, era como arrancar da pele uma grande fita adesiva, daquelas mais grudentas.

Era uma sensação grosseira, crua, alarmante, e, ao mesmo tempo, absolutamente fascinante.

O queestava acontecendo? Como eu poderia sair de dentro de mim mesmo? Foi um momento breve, e quando eu estava quase completando a saída, algo travou. Houve um conflito, um tipo de disputa, e acordei.

Mas não acordei completamente. Apesar da mente lúcida e desperta, o meu corpo estava paralisado!

Eu conseguia pensar, mas não conseguia mexer os músculos, abrir os olhos ou falar. Tentei me mover, mas apenas me contraí pateticamente. Tentei abrir os olhos, e apenas os revirei por debaixo das pálpebras. Tentei falar, mas apenas um mugido melancólico fez-se ouvir de minha boca fechada.

Foram alguns dos segundos mais demorados da minha vida. O medo e a angústia chegaram a um pico, e de repente eu pensei: “Bom, estou respirando e não tem muito o que fazer mesmo, então vou relaxar e esperar.”

Foi quando a paralisia cessou, como se retirassem um lençol de cima de mim.

No outro dia, antes de voltarmos para Fortaleza, contei tudo o que aconteceu ao Chiquinho. Ele ouviu com atenção, ficou muito sério e disse: “O que isso significa para você?”.

Refleti por um instante, e percebi que havia encontrado mais uma coisa no mundo que realmente importava.

Assista a este relato em vídeo!

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